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Sei coisas sobre 1977 em Angola, o chamado “estalinismo negro”, os excessos a ceifar a vida dos divergentes, aquele soldado a marchar como se tivesse corda para sempre, caminhando se preciso sobre os cadáveres, obstinado em marchar para sempre, em nome de uma bandeira cujos valores mais virtuosos desonrou.
Sei estas coisas porque o jornalismo me tem posto Angola no caminho. A sua História atravessa-se constantemente na minha própria, chega a ser intrigante para alguém como eu, que não tenho uma história pessoal com África, que venho de demasiado a Norte para saber o Sul e que me disperso (e encanto) por tantos outros interesses e lugares humanos.
Para saber o Sul como por exemplo Isabela Figueiredo, a autora de Caderno de memórias coloniais, pedaço literário que considero excepcional, antes e para além do seu evidente valor documental: uma obra literária (isto é, feita com a verdade da arte chamada literatura) que é também um testemunho. Sobre Moçambique, no caso.
Ou para saber o Sul como Ferreira Fernandes, reduto de luz sobre a memória recente de quando Angola ainda era Portugal, ali a iluminar a redacção do Diário de Notícias, para que não nos sejam amputadas as lembranças que não podem ser esquecidas. Incluindo as que lembram tempos mais próximos já, de quando Angola já não era Portugal. Pois o nome van Dunem transporta uma memória, não há como rasurá-la: o passado reemerge mesmo que não queiramos.
Felizmente, ainda há jornalismo emocionante que pode ser feito sem sair da redacção: crónicas literárias à melhor “moda antiga”, para dizer jornalismo literário, ou seja, prosa duplamente escrita com a verdade, e ainda por cima, sorte a nossa, com as palavras mais justas, colocadas nos lugares mais certos.
A crónica de hoje de Ferreira Fernandes, a não perder, aqui.
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