Antigamente viviam nas praças, os avós levavam lá os netos: vamos dar de comer aos pombinhos. Eram bons pássaros, seres pacíficos como não havia outros, que gostavam das migalhas do pãozinho duro, eram esses pássaros amiguinhos das crianças e dos avós. Por vezes surgia um pombo branco e era a estrela – a estrela da paz. Quando esvoaçava havia qualquer coisa que acontecia, um anjo passava a sussurrar um pequeno poema, os olhos das crianças brilhavam, Deus (a poesia, o mistério, a beleza, a bondade, que sei eu) andava por ali.
A maior parte eram pardos, cor de sarjeta suja, de genes cruzados pela força da fornicação sem rédeas (aquele som deles naquilo).
Não sei se eram realmente menos, mas hoje parecem demais, e vejo neles a nossa decadência, nos momentos mais negros o nosso destino, por vezes, quando o horror é demasiado, vejo o nosso presente, o nosso futuro: somos iguais. Continue reading “Hitchcockiana”